Quando Christopher Robin – Um Reencontro Inesquecível foi anunciado, crítica e público torceram o nariz.
De uns tempos para cá, uma mania tomou conta do cinema hollywoodiano: transformar os desenhos em live-action.
Teremos em breve os filmes de Dumbo e do Rei Leão, que são clássicos incontestáveis, mas e o Ursinho Pooh? Muita gente achava as aventuras dele e de seus amigos algo antiquado, que não caberia em um longa desse porte.
É ótimo saber que todos estavam errados. Christopher Robin é, seguramente, um dos melhores filmes do ano, e provavelmente um dos mais emocionantes da última década e está, sem sombra de dúvida, na briga por estatuetas na temporada de ouro das premiações deste ano.
Simples e emocionante
Ao virar o foco da narrativa para o garoto Christopher Robin ao invés do ursinho e seus amigos foi uma excelente jogada.
Acompanhar o crescimento dele e perceber o quanto os sonhos vão dando lugar as obrigações de adulto, como o trabalho e a manutenção da família é simples, mas muito doloroso.
Nisso, a atuação de Ewan McGregor ajuda bastante: sendo o excelente ator que é, ele passa muito bem a impressão de ser um adulto mergulhado em trabalho, claramente infeliz apesar de ter uma família que ele adora. Há a sensação de faltar algo.
E de fato, falta mesmo.
Nesse sentido, o longa trata mais de memória e afeição.
É menos um filme voltado para o público infantil (que com certeza vai adorar por motivos que já iremos explicar) do que para os adultos, que vêem na saga de Robin as suas próprias amarguras, medos e incertezas sobre o futuro e sobre a saudade que se tem do passado, quando tudo era mais fácil. Somente por esse viés o filme já tem méritos de sobra para ser lembrado como uma obra digna de prêmios, mas ainda há mais qualidades nele que precisam ser demonstradas.
Efeitos competentes para fazer chorar – literalmente
Quando vemos Christopher Robin, tanto criança quanto adulto, interagindo com o Ursinho Pooh, Ió, Leitão e companhia, dois sentimentos surgem com a força de um soco: primeiro, ficamos maravilhados com a perfeição técnica na interação desses personagens digitais, pois já no primeiro minuto nos esquecemos que eles foram criados no computador e passamos a nos afeiçoar a eles tanto quanto aos personagens de carne e osso; em segundo, um sentimento de nostalgia, pois eles são, em suas personalidades, absolutamente fiéis aos desenhos e ao livro que inspirou tudo.
Há muitas cenas que, de tão singelas, são emocionantes demais. Enquanto os adultos choram, as crianças se divertem: Pooh continua o comilão de sempre, Leitão ainda é super medroso, e Ió, bem, este rouba algumas cenas com sua característica mais marcante: a falta de amor próprio. Ao mesmo tempo em que rimos das situações, ficamos com pena dele – assim como nos desenhos animados.
Marc Forster, diretor de Christopher Robin – Um Reencontro Inesquecível, realiza aqui uma obra de arte: como o filme se passa um pouco depois da Segunda Guerra, as imagens parecem meio velhas, desbotadas, como se fossem uma lembrança. E isso faz com que o filme tenha um apelo emocional ainda maior. Não há qualquer dúvida da qualidade desse longa, pois ele atingiu todos os objetivos ao qual se propôs: anima e diverte as crianças enquanto faz os adultos repensarem as prioridades e os caminhos que tomaram na vida.