A metalinguagem é o que domina e enriquece Deadpool 2, da mesma forma que aconteceu com o primeiro filme do herói.
Lançado há poucos anos e que fez um enorme sucesso.
Dizem que em time que está ganhando não se mexe, mas nem sempre essa fórmula é seguida à risca.
Enquanto a primeira aventura de Deadpool se caracterizou pela violência crua e piadas sem dó nem piedade de quem quer que fosse, esse segundo longa é mais suave, mas mantém a língua afiada de seu personagem principal e, como já dissemos, tem a metalinguagem, que sempre entra para salvar tudo.
A regra de ouro no cinema americano é: um filme que faz sucesso deve ser mais inchado em sua continuação (que é inevitável; um filme que não tenha uma parte 2 é praticamente um fracasso).
Com essa premissa, Deadpool 2 é visivelmente um longa com efeitos melhores (mas não muito, propositalmente para dar a impressão de filme B), cenários mais elaborados e até a contratação de Josh Brolin, um nome quente em Hollywood, é sintoma de seu investimento mais pesado para trazer o filme a um novo patamar.
E isso se reflete na tela.
Deadpool 2 é uma metralhadora giratória
Sendo como Wade Wilson ou como Deadpool, o personagem não cala a boca um minuto sequer durante a projeção do filme.
E isso está longe de ser sem graça: Ryan Reynolds descobriu o tom certo de interpretá-lo e não se esqueceu de mais – deve ser como andar de bicicleta para ele.
Sua persona já se confundiu com a do personagem, e vai ser difícil dissociar: vai ser conhecido por ele como Robert Downey Jr e seu Homem de Ferro.
A questão é que nem sempre essa metralhadora giratória de piadas e gags funciona perfeitamente. Há momentos em Deadpool 2 que parecem ter sido inseridos apenas para agradar o público, sendo um corpo estranho no meio do filme.
Dá uma sensação esquisita ver cenas tão abrasivas em um filme tão anárquico.
Consequentemente, imagina-se que seja por causa da classificação etária. Uma pena, mas nada que seja forte o suficiente para tirar a força do longa.
O problema está nos coadjuvantes
Se há um problema em Deadpool 2, este está na condução da história que ronda o personagem-titulo.
A impressão que passa é que focaram tanto em dar linhas de diálogo expressivas para Ryan Reynolds que se esqueceram de que precisavam desenvolver os outros personagens também, para criar uma unidade em volta deles e fazer com que nos importamos, nem que seja por alguns instantes, com seus destinos.
Isso fica muito claro com o desenvolvimento de Cable, personagem de Josh Brolin.
Ele, que devia ser o antagonista e meter medo com suas atitudes, não atinge esses objetivos porque, aparentemente, nem os roteiristas e nem o diretor sabiam exatamente o que fazer com ele.
E quando se fala da X-Force, cujo aparecimento foi alardeado na internet, nem se fala: foram poucos minutos, quase nada, sem desenvolvimento algum.
A mesma coisa pode ser aplicada a Morena Baccarin, que interpreta a namorada de Wade.
Suas aparições são descartáveis, e se o filme saísse com o corte de todas as suas cenas, não mudaria em praticamente nada.
O filme é todo de Reynolds/Deadpool, isso não há como negar.
Talvez ele, atuando como produtor tenha feito mesmo esses coadjuvantes fracos para poder brilhar mais intensamente, no que ele consegue com glória: com a boca suja, insolente, politicamente incorreto e constantemente derrubando a quarta parede em uma deliciosa metalinguagem, falando com a gente com a naturalidade de quem acabou de nos encontrar na rua.
Há momentos de puro humor genial em Deadpool 2, que ao manter a fórmula do seu antecessor, não mexe na receita que dá, mesmo com suas falhas, um resultado fantástico.